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Rio Lítio

O que acontece quando uma megamineradora resolve entrar em um mercado dominado por uma mineradora cinco vezes menor? Saberemos em breve, pois é o que vai acontecer quanto a Rio Tinto, cujo valor de mercado está em US$ 192 bilhões, entrar no mercado de lítio, dominado hoje pela chinesa Jiangxi Ganfeng Lithium, de US$ 40 bilhões.


Na semana que passou, a Rio Tinto disse que vai investir US$ 2,4 bilhões na construção de uma mina de lítio na Sérvia, a partir de uma fonte mineral nova, a jadarita, que é um mineral branco composto de sódio, lítio, boro, silício. Normalmente, o lítio vem de salmouras (evaporitos) como no Chile e na Argentina, ou de espodumênio, que é um aluminosilicato, como no caso da Sigma Lítio, no Brasil.

A jadarita, encontrada no projeto de Jadar, na Sérvia, é um hidróxido de silicato de sódio lítio boro, ou seja, tem uma fórmula similar à da kriptonita que, no lugar do boro, tem flúor. Mas naturalmente esse mineral fictício, capaz de tornar o Super-Homem indefeso, não vai mudar mercado algum.

Segundo a Rio Tinto, segunda maior mineradora do mundo, o projeto Jadar deve começar a operar em 2026 e atingir a produção total em 2029, cerca de 58.000 toneladas de carbonato de lítio, 160.000 toneladas de ácido bórico (boratos são usados em painéis solares e turbinas eólicas) e 255.000 toneladas de sulfato de sódio.

Se esses números forem confirmados a Rio Tinto pode alcançar quase 5% do fornecimento global de lítio e cerca de 9% do mercado de carbonato de lítio, considerando os números atuais de produção.

Durante a vida útil inicial da mina devem ser produzidas 2,3 milhões de toneladas de carbonato de lítio ao longo de 40 anos. Com esses números a empresa com sede na Austrália pode se tornar um dos dez maiores produtores globais de lítio e passará a ter "a maior fonte de suprimento de lítio na Europa pelo menos nos próximos 15 anos", conforme comunicado emitido na terça-feira (27).


Simon Moores, da Benchmark Mineral Intelligence, que emite relatórios de preços sobre minerais usados em baterias para veículos elétrico e acompanha o desenvolvimento de gigafábricas de baterias, disse que "é a primeira vez que um grande investimento de uma única mineradora ou fabricante de produtos químicos entra no mercado de lítio e em uma mina inteiramente nova."

Moores acredita que a Rio Tinto vai entrar com força no mercado de lítio, usando o dinheiro acumulado com as operações altamente lucrativas de minério de ferro em aquisições de mineradoras de rocha dura, salmoura e fabricantes de produtos químicos.

Em abril, a Rio disse que estava pronta para produzir lítio com grau de bateria a partir de rejeitos da mina Boron, na Califórnia (EUA). Além disso, a Rio tem parcerias para produzir baterias de íon-litio mais modernas com a empresa europeia InoBat, a partir de matéria-prima extraída em Jadar.

Além da chinesa Ganfeng Lithium, que não para de ir às compras, o mercado de lítio tem pesos pesados como a norte-americada Albemarle, cujo valor de mercado é de US$ 24 milhões, a chinesa Tianqi Lithium, que vale cerca de US$ 23,8 bilhões, e a chilena SQM, que viu seu valor de mercado duplicar em um ano e ultrapassar US$ 13 bilhões.

Enquanto a SQM produziu cerca de 70 mil toneladas de carbonato de lítio em 2020, a Tianqi detém 51% da maior mina de lítio em operação no mundo, a Greenbushes, na Austrália. A empresa que detém os outros 49% é a Albermale, que tem também uma mina no Chile e outra em Nevada. Fechando as cinco maiores, temos a Mineral Resources Limited, da Austrália, mais conhecida como prestadora de serviços para mineradoras e que opera e detém metade da mina Mount Marion, sendo que a outra metade é da líder Ganfeng.

Em seguida, vêm várias mineradoras como a Livent e a Piedmont, dos EUA; as australianas Orocobre, Galaxy Resources e Pilbara Minerals; as chinesas Youngy Corp e Sichuan Yahua Industrial Group; e, do Canadá, a Lithium Americas e a Sigma Lithium que tem projeto no Brasil e viu seu valor duplicar em seis meses e chegar a US$ 534 milhões.

Temos ainda a Bacanora Lithium, dona do projeto Sonora no México, o maior em andamento no mundo e que tem como sócia a... Adivinhou, certo? A Ganfeng. Muitas dessas são juniores já compradas (como a Bacanora) ou prontas para serem compradas. Com a entrada da Rio Tinto, a balança deve pesar um pouco mais para o lado do ocidente, pois, como podem ver há três empresas de peso da China enquanto são uma dúzia dos EUA, Austrália e Canadá, sem falar na do Chile.

Veremos se a estrutura de produção de lítio e suas oscilações de preços suportam o grande overhead que vem junto com a estrutura de custos de grandes empresas como a Rio. O projeto Jadar, de US$ 2,4 bi, é relativamente muito caro em comparação com aqueles que estão para sair, como o Caucharí-Olaroz, da Lithium Americas, na Argentina, orçado em US$ 640 milhões e com capacidade para 40 mil toneladas de LCE (carbonato de lítio equivalente). E quem é o sócio da Lithium? Acertou de novo, a Ganfeng.

Vejo ainda a possibilidade de um spin-off da Rio junto com outros "metais de bateria", para se dividir o risco com mais sócios, mantendo isolada a vaquinha leiteira do minério de ferro, pois o mercado de lítio deve chegar a US$ 5 bilhões em mais uns 4 anos, o que convenhamos é pouco para um empresa como a Rio Tinto. Esse valor dá cinco semanas de produção de minério de ferro da Rio, considerando o valor atual da commodity.

Sem falar que as líderes do mercado de lítio estão nessa posição há pelo menos duas décadas e não vão ficar paradas vendo essa rica forasteira entrar no quintal delas, aguardemos reações.


Fonte: Notícias de Mineração do Brasil

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