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Com toneladas de rocha detonadas e processos químicos precisos, a fabricação de cobre que alimenta celulares, carros elétricos e usinas impressiona pela complexidade e impacto econômico moderno

  • jurimarcosta
  • 3 de dez.
  • 5 min de leitura

Metal essencial da economia digital e da transição energética, o cobre passa por um longo caminho que vai de detonações em minas a céu aberto até chegar a fios ultrapuros. Entenda como funciona a produção industrial, o papel do Brasil e os desafios ambientais que cercam esse processo.


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O cobre é hoje um dos pilares da economia moderna. Ele está em cabos elétricos, motores, transformadores, painéis solares, estações de recarga, tubulações e, claro, dentro de praticamente todo celular. Sua alta condutividade, resistência à corrosão e facilidade de reciclagem explicam por que ele é tão disputado.


Relatórios da Agência Internacional de Energia apontam que a demanda de cobre para tecnologias de energia limpa tende a crescer fortemente nas próximas décadas. A projeção é que, em cenários de maior ambição climática, mais de 40 por cento da demanda total de cobre passe a vir de aplicações ligadas à transição energética, como renováveis e redes elétricas reforçadas.


Os carros elétricos e híbridos também puxam esse consumo. Estudos internacionais mostram que um veículo elétrico pode usar até o dobro de cobre em relação a um carro convencional, graças ao motor elétrico, chicotes, baterias e sistemas de recarga. Já os híbridos utilizam menos cobre que os elétricos puros, mas ainda acima de um veículo a combustão, o que ajuda a explicar por que o metal virou peça chave no futuro da mobilidade.

Além dos veículos, a expansão e modernização das redes de transmissão e distribuição pesam no mercado. Reportagem recente destaca que o investimento global em redes elétricas deve ultrapassar a marca de 400 bilhões de dólares em 2025, com crescimento contínuo até 2030, o que significa mais cabos, subestações e equipamentos carregados de cobre.


Da prospecção às detonações: como a mineração de cobre começa na mina


Antes de virar fio, o cobre precisa ser encontrado na crosta terrestre. Geólogos analisam mapas, imagens de satélite e amostras de solo e rocha para identificar áreas com potencial de abrigar jazidas de minério de cobre em concentrações economicamente viáveis. Perfurações exploratórias ajudam a confirmar o teor do minério em profundidade.


Quando uma jazida é aprovada, entra em cena a mina a céu aberto ou subterrânea. Em grandes minas de cobre, escavadeiras e perfuratrizes abrem dezenas de furos de vários metros de profundidade. Esses furos são preenchidos com misturas explosivas cuidadosamente calculadas. As detonações fragmentam enormes volumes de rocha, permitindo que escavadeiras gigantes carreguem o material em caminhões fora de estrada com capacidade de centenas de toneladas.


A partir daí, começa uma operação quase contínua. Caminhões vão e voltam entre o pátio de britagem e a frente de lavra, enquanto centrais de controle monitoram, em tempo real, fluxo de caminhões, consumo de diesel, segurança e produtividade. Tudo isso para extrair rochas que, muitas vezes, têm menos de 1 a 5 por cento de cobre, exigindo processamento intensivo para concentrar o metal de interesse.


Do minério bruto ao cobre quase 100 por cento puro: passo a passo do processamento industrial


Uma vez extraído, o minério segue para britagem e moagem. Britadores reduzem as pedras a pedaços menores e, depois, moinhos com esferas de aço transformam o material em uma polpa fina. A partir daí, o caminho muda conforme o tipo de minério, que pode ser óxido ou sulfetado, cada um com um processo próprio de concentração e refino.


Nos minérios oxidado, é comum o uso da lixiviação em pilhas. As rochas britadas são empilhadas em grandes plataformas impermeáveis e irrigadas com uma solução diluída de ácido sulfúrico. Ao longo de semanas, o ácido dissolve gradualmente o cobre contido nas rochas, formando uma solução rica em íons de cobre que é coletada na base das pilhas e enviada para tanques de processamento.


Essa solução passa por etapas de extração por solventes e eletro-obtenção. Em tanques especiais, o cobre é transferido para uma fase orgânica e depois reconcentrado em uma solução ácida condutiva. Em seguida, a solução é bombeada para células eletrolíticas com chapas metálicas chamadas cátodos. Com a passagem de corrente elétrica, o cobre se deposita nessas chapas, formando placas com pureza próxima de 99,99 por cento, padrão exigido para aplicações elétricas de alta confiabilidade.


Já no caso dos minérios sulfetados, a rota clássica combina flotação e fundição. Após a moagem fina, reagentes químicos são adicionados para tornar as partículas de cobre hidrofóbicas. Em tanques de flotação, bolhas de ar arrastam essas partículas para a superfície, formando uma espuma rica em cobre. Essa espuma é removida e filtrada, resultando em um concentrado com teores que podem superar 30 por cento de cobre.


O concentrado segue então para fornos de fusão e conversão. Em altas temperaturas, forma-se um cobre intermediário, chamado blister, com algo em torno de 98 a 99 por cento de pureza. Esse material ainda passa por refino eletrolítico, em que placas de cobre impuro funcionam como ânodos e placas finas, como cátodos. Com a corrente elétrica, o cobre puro migra de um lado para o outro, deixando impurezas para trás e alcançando a mesma pureza de 99,99 por cento vista na rota de lixiviação. Só então o metal é solidificado em lingotes, vergalhões e fios que irão para cabos, motores e outros produtos.


Brasil na rota do cobre: oportunidades, impactos e debate ambiental

Embora ainda responda por uma fatia relativamente pequena da produção mundial, o Brasil vem ganhando espaço no mapa do cobre. Estimativas indicam que o país produz cerca de 400 mil toneladas por ano, algo próximo de 3 a 4 por cento da oferta global. A maior parte desse volume sai da província mineral de Carajás, no Pará, com destaque para as minas de Salobo e Sossego, operadas pela Vale, além de operações como Caraíba, na Bahia, controlada pela Ero Copper.


Nos próximos anos, os investimentos anunciados em projetos de cobre no Brasil somam bilhões de dólares, com expectativa de triplicar o aporte em novos empreendimentos entre 2023 e 2027. O objetivo é aproveitar a demanda crescente puxada pela indústria elétrica, pela construção civil, por energias renováveis e pela própria eletrificação da frota de veículos. Isso significa obras, empregos e arrecadação em regiões muitas vezes afastadas dos grandes centros.


Ao mesmo tempo, a mineração de cobre traz uma série de desafios ambientais. Estudos científicos mostram que esse tipo de operação pode causar degradação do solo, emissão de poeira e gases, alteração de cursos d água e riscos associados a barragens de rejeitos e disposição de sedimentos. A gestão de água é um dos pontos mais sensíveis, já que o processo consome grandes volumes em regiões que, às vezes, já sofrem com escassez hídrica.


Casos em países líderes na produção, como o Chile, servem de alerta. Na região do deserto do Atacama, projetos de cobre e lítio passaram a depender de água dessalinizada do mar depois de anos de pressão sobre aquíferos subterrâneos, o que gerou conflitos com comunidades locais e questionamentos sobre a recuperação de áreas úmidas.


Para o Brasil, a discussão passa por como expandir a produção de cobre com padrões mais rígidos de controle ambiental, tecnologias de menor emissão, uso eficiente de água e aumento da reciclagem. Afinal, o cobre é quase totalmente reciclável, e cada tonelada que volta ao ciclo reduz a necessidade de abrir novas frentes de lavra, com todos os riscos que isso implica.


No fim das contas, o cobre que sai da mina e vira fio nos postes, nos prédios e nos carros que circulam pelas ruas do Brasil carrega muito mais do que eletricidade. Ele traz embutidos decisões sobre modelo de desenvolvimento, proteção de biomas e respeito a comunidades próximas às minas. E é justamente esse equilíbrio entre progresso tecnológico e responsabilidade socioambiental que vai definir se o metal continuará sendo visto apenas como solução, ou também como parte de um problema que a sociedade precisa enfrentar.


Diante de tudo isso, você acha que o Brasil deve acelerar a mineração de cobre para aproveitar a demanda de carros elétricos e da transição energética, mesmo com os riscos ambientais, ou deveria apostar mais forte em reciclagem e redução do consumo de recursos minerais? Deixe sua opinião nos comentários.


Fonte: Click petroleo e Gás

 
 
 

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