Atualmente, a participação é de 15%. A meta é dobrá-la até 2030
Você já parou para pensar por que as mulheres ainda são minoria no setor da mineração? Seria porque mineração é um ambiente masculino? Ou que elas não se interessam pelas profissões relacionadas ao setor?
Na semana passada comemorou se o “Dia Internacional das Mulheres – 8 de março”, é importante evidenciar a evolução da presença feminina no setor mineral. Essencial para o desenvolvimento econômico do Brasil, a mineração ainda é um universo predominantemente masculino, mas há um esforço setorial para mudar este cenário.
De acordo com o 1º Relatório de Progresso do Plano de Ação de Avanço das Mulheres na Indústria de Mineração, realizado pelo movimento Women In Mining Brasil (WIMBrasil), apenas 15% da força de trabalho é feminina, o que representa uma alta de dois pontos percentuais na comparação com 2020. A presença delas em conselhos executivos é de 11% e nos conselhos de administração, 16%.
Para Patrícia Procópio, presidente do WIMBrasil, muito ainda precisa ser feito para que a indústria seja percebida como um “imã de talentos”, oferecendo as condições necessárias para as aspirações profissionais femininas. “É preciso criar um novo olhar para o setor mineral brasileiro, um olhar de respeito às mulheres em todos os níveis da organização e em todas áreas de atuação, de estímulo aos ambientes de trabalho inclusivos e diversos, e que a participação das mulheres seja valorizada como fonte de expertise técnica, excelência operacional, inovação para promoção da nossa indústria global para um futuro plural, além de mais produtivo e sustentável”, analisa.
O Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) é um defensor da indústria mineral mais diversa e inclusiva. Uma das metas estabelecidas pelas mineradoras associadas na Agenda ESG da Mineração do Brasil é dobrar o número de participação das mulheres no setor mineral até 2030. Empresas com o percentual atual abaixo de 13%, devem chegar a 25%; mineradoras com percentual atual entre 13% a 20%, deve dobrar esse número; e as organizações que atualmente tem mais de 20% de mulheres no seu quadro de funcionários devem aumentar para 45%.
Percebe-se que tem havido uma evolução na implementação de políticas inclusivas, como ações para o aumento da participação das mulheres nas organizações. Mas ainda temos um longo caminho a percorrer. O diálogo e a criação de uma cultura inclusiva nas empresas mineradoras são fundamentais para se criar ambientes de respeito e oportunidades iguais para todos e todas, avalia o IBRAM.
Diversibram
O IBRAM vai realizar, entre os dias 14 e 18 de março, a Diversibram – Semana da Diversidade e Inclusão na Mineração do Brasil. O evento será 100% virtual e gratuito será uma oportunidade para o debate franco sobre a equidade, diversidade e inclusão no setor mineral. Além da importância do aumento do número de mulheres na mineração, também serão discutidos os principais desafios na liderança inclusiva, estratégias de atração de talentos, diversidade e inovação, entre outros temas.
Veja a programação completa aqui.
O evento é uma realização do IBRAM, com patrocínio da ArcelorMittal e Mosaic Fertilizantes e apoio da AngloGold Ashanti e Mineração Caraíba. Os interessados devem fazer sua inscrição no site https://ibram.org.br/evento/diversibram/
Veja abaixo a entrevista completa da presidente do WIM Brasil, Patrícia Procópio.
Quais são as principais barreiras que a mineração precisa superar em relação à contratação de mulheres?
O setor mineral no Brasil começou a se abrir mais publicamente a essa discussão nos últimos anos, pois há uma forte barreira cultural que ainda inibe discussões como a inclusão de gênero. Mas o primeiro passo dado foi o reconhecimento de que se o setor continuar a ser tradicional e masculino não incentivará uma visão futura de inovação, sustentabilidade, diversidade e inclusão. Ao elaborar o Plano de Ação para o Avanço das Mulheres na Indústria de Mineração Brasileira e monitorar os resultados através dos Indicadores WIM Brasil identificamos que cada empresa apresenta um nível de maturidade em relação à atração e à retenção de mulheres na sua força de trabalho. É necessário identificar os obstáculos que se impõem em cada organização para que mulheres ocupem determinadas áreas predominantemente masculinas ou cheguem a cargos mais altos. O envolvimento das lideranças nas ações de diversidade, equidade e inclusão (DE&I) é fundamental para aumentar a diversidade de gênero e garantir práticas inclusivas para oportunidades de carreiras.
Quais são os principais obstáculos enfrentados pelas mulheres que buscam uma carreira na indústria mineral?
O setor mineral não é neutro em termos de gênero, e esta não é uma questão unicamente brasileira. Mulheres compõem 10% da força de trabalho na mineração global. Na alta liderança, apenas 5% dos cargos de boards nas 500 maiores organizações de mineração globais são ocupados pelo público feminino. Todos estes números demonstram que há um baixo engajamento das empresas em oferecer oportunidades de carreira para as mulheres. Muito ainda precisa ser feito para que a indústria seja percebida como um imã de talentos, oferecendo as condições necessárias para as aspirações profissionais femininas. É preciso criar um novo olhar para o setor mineral brasileiro, um olhar de respeito às mulheres em todos os níveis da organização e em todas áreas de atuação, de estímulo aos ambientes de trabalho inclusivos e diversos, e que a participação das mulheres seja valorizada como fonte de expertise técnica, excelência operacional, inovação para promoção da nossa indústria global para um futuro plural, além de mais produtivo e sustentável.
Você acredita que o Brasil alcançará a igualdade de gêneros no mercado de trabalho? O que será preciso para chegar a esse patamar?
Sabemos que será uma longa jornada que está diretamente relacionada com a conscientização do setor e ações efetivas de transformação. A pauta ESG reforçou esta necessidade de evoluir mundialmente em questões de DE&I (Diversidade, Equidade e Inclusão), e a mineração também tem caminhado nessa direção. Assim, a questão da equidade de gênero hoje é discutida frequentemente e muitas empresas iniciaram um processo de mudança, com compromissos públicos, algumas com metas declaradas, e o setor como um todo revendo o impacto que a falta de compromisso pode ter na sustentabilidade do setor.
Mas ressalto que é essencial perceber que somos todos protagonistas deste movimento rumo à equidade de gênero, e que o tempo dessa jornada será determinado pelo engajamento dos atores dessa mudança.
Para que a transformação do setor seja efetiva, que haja mudança real na cultura das empresas, e não se trate apenas de “diversity washing”, é preciso que os números sejam medidos e reportados. Precisamos de compromisso vindo do topo, investimento, ações, dados e monitoramento. O primeiro passo da jornada de monitoramento já foi dado pelo nosso movimento do WIM, através do relatório de progresso, que pretendemos manter nos próximos anos. Iniciamos essa jornada de mudança, mas como vemos nos indicadores que apresentamos em 2021, os desafios são muitos e o investimento na mudança necessária ainda é baixo.
Os números recentes do Relatório de Indicadores WIM Brasil de 15% de participação das mulheres no setor, demonstram que, efetivamente, é uma participação ainda muito baixa. Principalmente em se considerando que somos, segundo fontes oficiais, mais da metade da população e, cerca de 44% da força de trabalho do mercado brasileiro. Porém comemoramos a evolução de 2% em um período de um ano. Esse compromisso com a implementação do Plano de Ação já foi firmado por 27 empresas do setor, conforme pode ser visto no site do WIM Brasil (https://www.wimbrasil.org/). Além disso, o WIM Brasil publica um relatório anual de progresso com indicadores de desempenho, os quais servem para monitorar o aumento dessa representatividade em todos os níveis e áreas de atuação das empresas. As empresas signatárias também têm acesso a seus próprios números de maneira detalhada e comparativa aos números do setor. Com isso, as empresas possuem informações estratégicas para implementar as mudanças necessárias para que a indústria mineral alcance a equidade pretendida.
Para você, qual a importância de colocar a mulher como protagonista em uma empresa de mineração?
Para ter sucesso em um ambiente de negócios complexo e dinâmico, o setor de mineração do Brasil precisa buscar atrair mulheres talentosas e habilidosas, mantê-las, capitalizar seus pontos fortes e reconhecer o valor que podem agregar. Vários países e organizações globais já compreenderam os benefícios que uma cultura de inclusão tem em sua economia, que permeia não apenas questões de responsabilidade social, inovação, mas também financeiras. As práticas ESG, principalmente as referentes ao Social e Governança, têm ganhado mais visibilidade no mercado financeiro e seus investidores são hoje grandes provocadores da evolução dessa pauta.
Como foi a sua experiência ao fazer a escolha de trabalhar neste setor?
Geóloga PhD, com mais de 30 anos de trabalho dedicados à indústria mineral, minha experiência não foi diferente da maioria das mulheres que já atuam no setor. Muito trabalho, estudo e dedicação em busca de reconhecimento, que não garante equidade em sua ascensão de carreira. Muitas foram as dificuldades, mas ressalto principalmente as relacionadas a ambientes de trabalho seguros, do ponto de vista físico e psicológico. Esta trajetória me fortaleceu como mulher, comprometida na luta por novas perspectivas para a mineração brasileira, através da ampliação e fortalecimento do avanço da participação das mulheres na mineração, através do movimento WIM Brasil, no qual sou uma das fundadoras e primeira presidente.
Fonte : https://portaldamineracao.com.br/
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