O minério de ferro já superou a valorização do ouro durante a pandemia do novo coronavírus. Desde o início de 2020, a commodity subiu cerca de 50% na China contra os 30% registrados pelo ouro no mesmo período.
A alta do insumo siderúrgico é impulsionada principalmente pelo apetite chinês, já que é peça fundamental para os planos do país de estimular a economia por projetos de infraestrutura. Somente em julho, a China importou 112,6 milhões de toneladas - 10,8% a mais do que em junho e 23,8% superior a julho de 2019.
Nos sete primeiros meses do ano, o volume das importações foi de 589,8 milhões de toneladas, 11,8% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado.
"Aparentemente, estamos com fundamentos bem sólidos que sustentam o nível de preço acima de 100 dólares", avalia Luiz Caetano, analista da Planner Investimentos.
A alta demanda da China tem favorecido grandes empresas na Bolsa. No segundo trimestre, a receita da Vale com o país asiático chegou a US$ 4,320 bilhões, 35,2% superior à receita do primeiro trimestre do ano. A receita operacional também teve participação chinesa, com aumento de 45,9% para 57,5%. Esse bom desempenho da mineradora resultou na retomada dos dividendos, que estavam suspensos desde o rompimento da barragem em Brumadinho (MG).
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) também foi beneficiada pela demanda da China. O segmento de mineração passou a representar 40% da receita líquida no segundo trimestre contra 29% no período fiscal anterior.
Caetano destaca que empresas com o foco em siderurgia, como Usiminas e Gerdau, também são favorecidas com a alta do minério de ferro. "Elas têm minério próprio, então não sofrem com o custo, mas conseguem repassar a valorização do aço", explica.
Dentre as quatro empresas citadas, apenas a Gerdau acumula queda em suas ações no ano, com perdas de 2% - ainda sim ela possui uma performance superior a 68% dos papéis do Ibovespa.
Já as ações da Vale, por outro lado, lideram o setor, com alta de 18% em 2020. Com participação de cerca de 10% no índice, os papéis da Vale foram um dos principais responsáveis pela recuperação da Bolsa. Desde 23 de março, quando bateu seu menor patamar, o Ibovespa já subiu cerca de 59%, enquanto as ações da Vale, 85,87%. Já as ações da CSN dispararam cerca de 150% desde a mínima do ano.
Para analistas do BTG Pactual e do UBS, ainda há espaço para os papéis da Vale subirem. Para ambas as casas, o preço-alvo do ADR da companhia é de US$ 14, enquanto ainda são negociados a US$ 11,50. Ou seja, há um potencial de valorização de mais 27%.
Para Caetano, não só as ações da Vale, mas da CSN, Gerdau e Usiminas ainda têm espaço para valorização, caso o minério de ferro se mantenha nos atuais patamares. No entanto, ele não espera que o preço da commodity tenha uma forte apreciação daqui para frente.
Em relatório da área de pesquisa do UBS, que faz uso de amostras por satélite, os carregamentos de minério de ferro do Brasil para a China bateram o segundo maior patamar do ano na semana passada, ainda que o volume tenha diminuído 12% em relação à semana anterior. De acordo com o UBS, o Brasil é o segundo maior exportador de minério de ferro do mundo, atrás apenas da Austrália, e corresponde a 27% do mercado global. Dentro do país, a Vale representa 79% das exportações, a CSN, 8%, a Anglo American, 4%, Usiminas, 1% e outras empresas, 7%. As informações são da Exame.
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