Bahia é pioneira em projeto para o reaproveitamento dos resíduos da produção de mármore
Produção do mármore bege bahia (Foto: Divulgação)
Rejeito? Está na hora de rever o conceito. A Bahia é pioneira em um projeto para o reaproveitamento dos resíduos da produção de mármore. Mesmo sendo destaque na produção de rochas ornamentais, por anos o pó e refugos do produto ficaram sem destinação adequada. Agora, a Embrapii, em parceria com o Sebrae, o Senai Cimatec e um consórcio de empresas do setor, está desenvolvendo cinco projetos para dar melhor destinação ao material. O objetivo é transformar o que sobrou do mármore em cimento, argamassa e até mesmo fertilizante.
“Nós não gostamos nem de usar essa palavra, rejeito, porque passa a ideia de algo sem serventia”, rechaça Silmar Baptista Nunes, executivo de novos negócios no Senai Cimatec. O centro tecnológico vem trabalhando no desenvolvimento de uma série de projetos no setor, que passam do reaproveitamento de materiais, melhorias de processos e novas tecnologia para a pesquisa, com o uso da supercomputação, entre outras possibilidades.
“Há uma compreensão por parte do setor mineral quando à importância de se inovar. Só como exemplo, nós temos atualmente mais de 50 projetos relacionados à mineração”, diz. Quando o assunto é o chamado rejeito, a revolução começa pelo nome. “Nós trabalhamos com a ideia de um minério de baixa concentração. O segredo está em encontrar uma maneira economicamente viável de utilizar”, acredita.
O direcionamento é importante para reduzir a necessidade de utilização de barragens na mineração, explica. “A mineradora quer extrair um mineral, mas ele nunca está sozinho. O que acontece é que para se retirar o mineral principal, acaba-se extraindo também outros, que vão embora junto e ficam como rejeito. A gente está desenvolvendo tecnologias para aproveitar esse rejeito que já passou por todo o processo e está depositado em uma barragem”, diz.
“A rota tecnológica depende da empresa, algumas preferem trabalhar com a pirometalurgia (fogo), outras com água”, explica.
A Nexa Resources, que atua na produção de metais não ferrosos – zinco, cobre e chumbo – há mais de 60 anos optou pelo uso do fogo para recuperar metais presentes em resíduos. A mineradora possui cinco minas subterrâneas, duas localizadas no Brasil e três no Peru, e opera três unidades de metalurgia.
Além disso, ela contou com o apoio do Cimatec para o desenvolvimento de um projeto para a combustão de óleos renováveis em Três Marias (MG). O bio-óleo usado nos fornos foi criado a partir da biomassa de eucalipto, que praticamente zera as emissões de gases de efeito estufa nos equipamentos da empresa.
Cobre
Outro exemplo deste movimento pode ser percebido na Mineração Caraiba. A empresa está investindo no processo de remoagem após a moagem primária, para melhoria do desempenho da recuperação do cobre na planta e aumento da produção de massa alimentada na planta. A operação dessa instalação de remoagem está prevista para ser iniciada em 2020.
Além disso, estão sendo implantadas instalações móveis de pré-concentração, onde, inicialmente , haverá testes com minério de diferentes localidades para, em seguida, se entrar com ritmo normal de produção já a partir de 2020.
Estão sendo pesquisadas outras substâncias minerais contidas no minério de cobre cuja viabilidade de aproveitamento possa agregar valor ao resultado final no futuro.
O Brasil é o quarto maior exportador de rochas ornamentais no mundo, resultando em US$ 992,5 milhões em exportações, segundo dados de 2018 da Associação Brasileira de Rochas Ornamentais (Abirochas). Com tamanha demanda, os resíduos gerados necessitam de uma destinação sustentável e economicamente viável. Foi na busca de soluções para este desafio, que 63 micros e pequenas empresas, que formam o consórcio Assobege (Associação dos Empreendedores de Mármore Bege Bahia), se uniram para o desenvolvimento de projetos inovadores com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e o Sebrae.
As empresas envolvidas na parceria atuam na região da cidade baiana de Ourolândia, único local no Brasil onde pode ser encontrado o mármore do tipo Bege Bahia. Apesar de concorrentes, as empresas partilhavam do problema da inutilização do pó de mármore, cascalho ou partes fora do padrão e perceberam um caminho para atender a esta demanda social, econômica e ambiental.
Segundo Silmar Nunes, são cerca de dois milhões de toneladas acumuladas em montanhas de cascalho, pó e restos de mármore Bege Bahia, gerado pelas empresas de extração. “Juntamente com outras instituições, como Simagram (Sindicato de Mármores e Granito do Estado da Bahia) e IDEM - GB (Instituto de Desenvolvimento Do Mármore Bege Bahia Gian Franco Biglia), a ideia é agregar valor aos subprodutos dando destinação a este material”, explica.
“A inovação tecnológica será uma excelente oportunidade para as empresas buscarem soluções para suas demandas”, destaca.
Fonte: Correio da Bahia
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