A indústria de mineração no país terminou 2020 comemorando bons resultados, apesar do cenário negativo desenhado entre abril e maio, no auge da pandemia de Covid-19. Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), o setor conseguiu superar a crise pandêmica “com relativo sucesso”, se beneficiando da alta dos preços do minério de ferro e da cotação dos metais não-ferrosos.
Para representantes da indústria mineral e siderúrgica, a China - grande importador de matérias-primas industriais - é o principal fator desse desempenho. Levemente afetado pelo novo coronavírus, o país manteve ritmo firme da economia desde março, com estímulos do governo em projetos de infraestrutura e empreendimentos imobiliários, entre outros setores. O Brasil, como grande supridor de commodities, foi beneficiado.
O preço do minério de ferro é puxado pelo consumo consistente das usinas de aço chinesas, que operam ao ritmo de 90% da capacidade. Dois outros fatores ajudam a manter a cotação em alta nessa reta final de ano. Primeiro, a menor oferta prevista por parte da Vale em 2021, devido a problemas em suas operações em Minas Gerais. Em segundo lugar, é comum no primeiro trimestre de cada ano os embarques serem afetados por chuvas no Brasil e ciclones nas regiões dos portos da Austrália. Os dois países são os maiores produtores mundiais da commodity.
O faturamento da mineração brasileira, no ano, em moeda nacional, acumulou até setembro, R$ 125 bilhões - pouco mais de 40% apenas no terceiro trimestre. "A recuperação é fruto também do duplo efeito do câmbio valorizado - nas exportações e nos preços das commodities, como o ferro e os metais não ferrosos", destaca Wilson Brumer, presidente do conselho do Ibram.
No mercado interno, a demanda por minerais industriais, como calcário, brita e areia também teve forte demanda, puxada pelo boom de lançamentos imobiliários e pela autoconstrução durante a pandemia. O calcário é usado na fabricação do cimento - de janeiro a novembro, a venda de cimento apresentou alta acima de 10% em relação a 2019.
Outros materiais de construção sobressaíram nesse cenário de recuperação da economia, como aço longo, madeira e tijolos. O vergalhão de aço, e também chapas, chegou a faltar em alguns momentos, enquanto as siderúrgicas religavam seus fornos e a normalização do abastecimento ainda avança 2021 adentro.
"Estamos terminando bem o ano, acima do que esperávamos, e vamos entrar 2021 também com perspectivas promissoras", diz Brumer. Ele menciona o minério de ferro como carro-chefe, mas lembra que a mineração brasileira tem relevância também em ouro, bauxita, zinco, nióbio e cobre.
As exportações podem fechar o ano com crescimento da ordem de 10%, na casa de US$ 35 bilhões - de janeiro até novembro a balança dos embarques somou US$ 32 bilhões, informou.
Brumer disse que, apesar de alguns ajustes, os investimentos do setor para os próximos quatro a cinco anos estão estipulados na casa de US$ 37 bilhões. Em Minas Gerais, enfatiza, grande parte é destinada a descomissionamento de barragens. Estão previstos no estado US$ 12,5 bilhões.
Outros estados que se destacam são a Bahia - com muito foco em exploração de zinco, níquel, cobre, ouro ferro e vanádio - e o Pará, onde está a reserva polimetálica de Carajás (ferro e cobre associado a ouro) e minas e reservas de ouro, bauxita, níquel e manganês. Para Bahia estão previstos US$ 10,5 bilhões. No Pará, US$ 8,6 bilhões.
A região do Centro-Oeste, principalmente Mato Grosso e Goiás, há previsão é US$ 5,5 bilhões. "Há uma boa diversificação geográfica, saindo do duopólio Minas-Pará", diz Brumer. Na sua avaliação, há perspectivas positivas para o setor no próximo ano. Principalmente nas exportações de minério de ferro, nióbio e manganês, que vão para China, Japão e outros países.
Ele lembra que o Brasil também exporta muito ouro - para Canadá, Suíça e Índia - metal extraído de atividades empresariais. No entanto, uma questão a ser resolvida é a lavra ilegal que ocorre em muitos garimpos que "são verdadeiras operações empresariais, com maquinário pesado". "Ainda é um problema que precisa ser superado no país com rigor pelo governo", afirma.
Neste ano, o Ibram se consolidou com as mudanças de gestão adotadas ao longo de 2019. "O papel da entidade ganhou nova dimensão, fizemos uma carta de compromissos seguida pelas empresas; o Ibram se fortaleceu perante o Ministério de Minas e Energia (MME) e a Agência Nacional de Mineração (ANM), buscou trazer as pequenas e médias empresas para a mesma filosofia; e criou uma série de comitês com representantes de mineradoras.
O executivo afirma que ainda tem muito a trabalhar na questão da imagem da indústria mineral devido aos dois grandes desastres das barragens de Fundão e Brumadinho e que esses eventos tiveram forte impacto no setor. "Temos de adotar todos os conceitos da ESG [governança e sustentabilidade social e ambiental]". O Ibram representa 85% da produção mineral brasileira, com seis mil empresas que operam 10 mil minas no país.
As informações são do Valor Econômico.
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