O hidrogênio, tanto na forma de combustível de caminhões fora de estrada quando na de substituto do carvão em siderúrgicas, tem o poder de transformar definitivamente a mineração de vilã para heroína naquilo que se chama de Economia do Hidrogênio.

Esse tipo de proposta econômica ganhou impulso nos anos 1970 e visa retirar os combustíveis fósseis do centro. O conceito em si surgiu bem antes, em 1923, com o biólogo e geneticista J. B. S. Haldene que acreditava que o carvão estava se esgotando na Inglaterra e seria necessário criar usinas de hidrogênio, uma fonte renovável, para aquecer os ingleses. Haldene, considerado um dos mais brilhantes cientistas do século passado, também acreditava que a ciência podia (e devia) resolver qualquer problema, incluindo a melhoria dos seres humanos, algo que ficou depois conhecido como eugenia. Mas essa é outra história.
A Inglaterra ainda tem carvão de sobra, porém não quer mais explorá-lo (a última mina foi fechada em 2015, e uma nova tenta ser licenciada há anos). Já com o hidrogênio é outra história, pois há grande interesse, mas ainda obstáculos a superar. Esses obstáculos são similares aos que fizeram com que carros elétricos (que foram os primeiros) fossem substituídos por automóveis com motores a combustão interna, na primeira década do século passado: custo e autonomia.
Entre os obstáculos estão a disponibilidade de infraestrutura de armazenagem, reabastecimento (postos) e transporte em relação aos combustíveis fosseis. Além disso, há o custo da mudança, com novas oficinas e treinamento em um novo tipo de mecânica. Sem falar no alto custo de produção, que está caindo rapidamente com o uso de fontes renováveis, exemplo disso é o projeto da FFI, um braço da Fortescue Metals Group (FMG), no Ceará, para produzir hidrogênio (H2), e no porto de Açu, da Prumo, para produzir amônia verde, fonte de H2.
Esse gás incolor, cuja maior parte (95%) está aprisionado em substâncias fósseis, passou a ser reconhecido como verde nos últimos vinte anos. Contudo, em 2021, deu uma arrancada e ganhou as manchetes junto a empresas mineradoras como Anglo American, FMG e Rio Tinto.
Pesquisei o termo hidrogênio no nosso NMB e notei que neste ano já tinham sido publicadas 13 matérias sobre o assunto, que incluíam aço verde e veículos de mineração. Esse valor, apesar de baixo, está bem acima das duas ou três matérias por ano publicadas desde 2013. Esse salto se justifica pelo volume de negócios que estão surgindo baseados na cadeia de suprimentos de hidrogênio.
Na semana passada, a Anglo American assinou um acordo com a siderúrgica Salzgitter para a redução de emissões de CO2 na produção de aço a partir de pelotas de minério de ferro especiais e investimentos no uso de hidrogênio. Naturalmente, o uso de hidrogênio na produção de pelotas também ajuda a reduzir a pegada de carbono do aço. A Anglo está indo além. Caminhões movidos a hidrogênio, com tecnologia da Nproxx, estão em testes em minas de platina da África do Sul desde abril.
A Rio Tinto estuda usar hidrogênio na produção de alumina. Nessa linha, a norueguesa Hydro considera usar hidrogênio para substituir gás natural usado na produção de energia para fazer alumínio.
Na semana que passou, a Rio Tinto se associou à Komatsu para acelerar projetos de uso de tecnologias elétricas e de hidrogênio para reduzir emissões de carbono, como parte da GHG Alliance criada pela fabricante japonesa. Outras mineradoras que estão nessa aliança, formada pela maior fabricante de veículos fora-de-estrada, são BHP, Codelco e Boliden. A BHP se tornou um membro fundador na semana passada, junto com as demais.
Estranhamente a brasileira Vale não parece seduzida pela trend do hidrogênio. Parece que o Brasil, de forma geral, abraçou o atraso no controle de emissões de carbono. Enquanto EUA, Europa e China caminham para o chamado Tier 4f (de final, padrão americano para emissões de gases e material particulado) e seus equivalentes, a adoção do Tier 4 (que é a mesma coisa que o padrão Euro 6 na Europa e Proconve P8, no Brasil) foi empurrada, em 2018, para 2023.
Voltando ao H2, a Komatsu pode ser grande, mas não é a única em busca do caminhão movido a células de combustível com hidrogênio. A Rolls Royce diz que seus famosos motores mtu estão sendo preparados para, a partir de 2023, usar combustíveis renováveis como as células de hidrogênio, pois acreditam que algumas atividades como o transporte de minério em minas a céu aberto são difíceis de eletrificar.
A Volvo se juntou à Daimler para criar uma gigafábrica de células de combustível e uma rede de 300 postos na Europa, até 2025, para atender à futura frota de caminhões movidos a hidrogênio. Em maio, a Volvo CE (de equipamentos de construção) abriu um laboratório somente para testes de uso de células de combustível em equipamentos pesados.
O importante é que a forma como as minas operam, com grandes caminhões com rotas fixas e circulares, torna a atividade propícia para ser a primeira usuária de veículos que tem hidrogênio como combustível, capaz de dar a potência necessária e facilitar o reabastecimento. Analistas de todas as cores concordam que o hidrogênio não é uma panaceia, mas é parte da solução para a descarbonização da economia global.
Fonte: Notícias de Mineração do Brasil
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