Marcos Faraco, vice-presidente da Gerdau Aços Brasil, Argentina e Uruguai, afirmou que Minas Gerais representa 70% das operações da empresa no Brasil.
Segundo ele, é para Minas que estão sendo direcionados boa parte de investimentos em melhoria de competitividade, ganho de energia, eficiência, aumento de capacidade e modernização de equipamentos. O objetivo é levar os investimentos no Estado ao patamar de R$ 1,5 bilhão em três anos. Confira a entrevista
Qual a performance da Gerdau nessa pandemia na região?
A pandemia tem sido um período extremamente desafiador. Nessas últimas 20 semanas, especialmente as do mês de abril, meados de maio, estávamos muito imersos, com um nível de incerteza muito grande. Estávamos vindo de um momento bastante positivo no segundo semestre de 2019, depois de quase cinco anos de crise, tínhamos uma expectativa de recuperação em 2020, o que aconteceu nos dois primeiros meses do ano. E nos deparamos em março com toda essa crise. Isso foi um baque, mas reagimos muito rápidos, foi um dos grandes méritos da Gerdau nesse período. Tivemos uma capacidade de leitura de mercado, da situação, e tomamos medidas durante esse período. Vivemos nesses últimos três meses o que viveríamos num ano ou dois. No final de março, percebendo que existia uma reação de freio de demanda nos mercados, tomamos a decisão de parar nossas operações. Basicamente, na primeira semana de abril, paramos quase toda a nossa operação no Brasil. E também para garantir a integridade e a segurança das pessoas. Ao logo de abril, fomos percebendo que o Brasil estava reagindo de forma distinta a essa crise, vimos que existam demandas e oportunidades acontecendo. Fomos ajustando nossa operação. Em meados de abril, retomamos boa parte das nossas operações e desde então a gente vem numa crescente. No final de maio, anunciamos um marco importante em Minas, que foi a retomada do alto-forno 2 de Ouro Branco, que havia parado em março. E chegamos no final do trimestre com todas as nossas operações em ritmo de produção em um bom patamar.
Na semana passada, a Gerdau soltou o balanço, e o presidente falou de resultados muito positivos de retomada, citou um crescimento de 10%. Quais os sinais que vocês estão vendo para garantir esse otimismo para o restante do ano?
Uma coisa que vimos nesse trimestre é que o Brasil é um país continental e teve uma reação social e uma relação econômica bastante heterogênea nesse período. Regiões responderam de formas distintas em momentos distintos da economia, e setores reagiram também de forma distinta. Um setor importante para nós é o da construção, que responde por cerca de 40% do nosso negócio no país hoje. No início da crise, esse setor teve umas paradas nas primeiras semanas de abril, mas vimos que boa parte dos canteiros de obras residenciais, principalmente do Minha Casa, Minha Vida, e toda a parte urbana começaram a retomar. Observamos que boa parte desses canteiros começou a acelerar as suas obras, seus cronogramas, aproveitando esse momento. Acredito que 100% dos canteiros retomaram até o final de maio, em junho, a gente já vivenciou isso. Quando a gente olha para frente, estamos vendo esse momento se mantendo e também uma retomada das vendas. As empresas estão reabrindo estandes, o contato com o público. Nossos parceiros estão otimistas com os próximos meses. A decisão do Copom de reduzir a taxa de juros é um sinal muito positivo para a construção como crédito e oportunidade de investimento. Outro ponto de destaque nesse período todo foi o setor de varejo. Somos um país onde o alto construtor responde por quase 45% da demanda da construção. É obra feita por famílias, pequenos grupos. Eles se alimentam de aço no varejo, nas lojas - reflexo do trabalho que o governo fez com apoio financeiro -. Vimos um fluxo crescente nas lojas e tivemos o mês de julho como o melhor mês do varejo de muitos anos. Estamos vendo esse movimento se mantendo.
Por conta dessa demanda de vergalhões que está crescendo na Gerdau, a empresa vai manter os investimentos? Em Minas, por exemplo, havia uma previsão de R$ 1 bilhão para os próximos dois anos. Isso está mantido?
Eu queria destacar que Minas para a Gerdau é o principal polo produtor de aço. Hoje, 70% de toda a produção de aço da Gerdau está em Minas. Temos um polo importante que é a Usina de Ouro Branco, onde temos produção na linha de longos, planos, semiacabados - parte deles são exportados. Temos as unidades de Divinópolis e Barão também. Todo nosso maciço florestal e nossa base florestal também está em Minas. E tem nossa mineração. Minas representa 70% da Gerdau e é a nossa plataforma de crescimento para o futuro, é para onde estamos direcionando boa parte dos investimentos, seja de melhoria de competitividade, ganho de energia, eficiência, aumento de capacidade e modernização de nossos equipamentos. Mantemos nosso investimento da ordem de R$ 1 bilhão nos próximos dois anos, temos uma visão de, em três anos, fazer R$ 1,5 bilhão de investimentos em Minas. E eles estão mantidos. Seguimos fazendo investimentos, fizemos na pandemia em Divinópolis, temos investimentos acontecendo em Ouro Branco, na mineração, e vamos seguir apostando na retomada do Brasil e no potencial que temos no Estado.
A reforma do alto-forno 1 vai sair este ano?
Fizemos uma reforma importante em 2019, modernizando equipamentos, ajustando parte de manutenção, e estamos planejando a reforma completa do alto-forno 1 em 2022.
Tem aumento de capacidade de produção para Minas previsto?
Temos em Minas uma capacidade de produzir 5 milhões de toneladas de aço. Estamos produzindo 80% e temos espaço para crescer sem investir em ampliação de capacidade. Os investimentos que estamos direcionando para Minas hoje são para modernização de equipamentos, ganhos de eficiência e competitividade e em modernização na nossa mineração para que a gente possa dar continuidade ao negócio e possa também fazer o nosso modelo de mineração 100% para processamento a seco. Nesse momento, não estamos vendo investimento para aumento capacidade da produção de aço, mas para modernizar os parques fabris.
Exportações vão representar mais geração de resultados no segundo semestre?
É uma parte importante do nosso negócio. Temos, nos últimos anos, o Brasil com economia bastante deprimida. Tivemos um volume importante da nossa produção sendo destinada para exportação. Chegamos no pico da crise a designar quase 40% para exportação, nesse momento a gente tem uma parcela de 20%. Vimos nos últimos meses abrir uma janela de oportunidades no mercado internacional, os preços tiveram um ajuste para cima. No final do segundo semestre, estamos vendo exportações crescentes, e temos a expectativa de seguir crescendo e trabalhar num patamar de rentabilidade positivo. Por isso voltamos com o alto-forno 2 de Ouro Branco. Voltamos em maio para preservar empregos e, no segundo momento, essa janela de oportunidade se abriu e estávamos preparados para exportar. Estamos vendo de forma crescente, pretendemos exportar 50% mais no segundo semestre do que no primeiro. E a gente acredita que vamos conseguir de forma rentável.
A exportação é de produtos laminados ou semiacabados?
Hoje, 80% da nossa exportação são de produtos semiacabados. Estamos exportando os tarugos, de Divinópolis, Barão de Cocais e Ouro Branco, e as placas que produzimos em Ouro Branco. Exportamos também um pouco de produto acabado, que é fio máquina, perfil estrutural, chapa grossa. Produzimos em Ouro Branco, mas representa 20% da parcela total.
E há planos de ampliar esse mix, porque eles têm maior agregado?
Sem dúvida. A gente sempre tem priorizado o atendimento dos produtos acabados para o Brasil. Essa capacidade de semiacabados a gente tem destinado para exportação. Sempre que a gente tiver a oportunidade de servir a demanda e fechar a janela dentro do Brasil, é a nossa intenção.
O anúncio do governo argentino para sair da moratória traz alguma expectativa para a melhora no consumo de aço?
Argentina está sofrendo neste ano uma grande crise. A gente enxerga com muito bons olhos esse acordo feito pelo governo argentino com os fundos para repactuação da dívida e da situação financeira do país. Isso traz uma tranquilidade para o investidor, para os mercados. Existe um potencial enorme de investimentos na Argentina, necessidades de infraestrutura e obras residenciais represadas. Existem demandas para isso, interesse de investidores e é muito importante que exista esse ambiente econômico e jurídico pacificado. A gente acredita que esse movimento que o governo fez traz essa tranquilidade. A reação do nosso time e dos parceiros de negócios foi bastante positiva. Os últimos dois meses, surpreendentemente foram muito positivos, de retomada da construção, já se preparando para esse momento mais favorável.
Na área de mineração, há a possibilidade de aumento na produção?
Em Minas, estamos operando em Várzea do Lopes e Miguel Burnier, em Itabirito e Ouro Preto. Temos produção de cerca de 6,5 milhões de toneladas de minério. Ele é destinado basicamente para nosso alto abastecimento, principalmente para nossa planta de Ouro Branco. Nossa estratégia nesse momento é manter o alto abastecimento. Estamos investindo e ampliando nossas reservas e exploração para poder manter essa estratégia. Recentemente, iniciamos as atividades em Várzea do Leste Norte, anunciamos no ano passado a retomada da unidade de processamento para minério. Mas são para manter o alto abastecimento de nossas operações.
Estão fazendo empilhamento a seco? Como estão as barragens e os licenciamentos em Minas?
Hoje, cerca de 40% da nossa operação já não tem a demanda de disposição de rejeito em barragem úmida, temos parte do nosso processamento a seco. Estamos investindo entre barragens, adequação de nosso processo para empilhamento e processamento a seco cerca de R$ 300 milhões nesses próximos anos. Nossa expectativa é que até o final do ano que vem 100% da produção da Gerdau seja feita de processo a seco. Estamos com investimentos em curso, parte deles entra em maio do ano que vem.
Há licenciamentos pendentes?
Tivemos agora o licenciamento de Várzea do Leste Norte, estamos discutindo a extensão do licenciamento da nossa cava de Várzea do Leste. Governo de Minas sempre foi muito sensível aos temas, muito próximo do setor industrial, não deixando que os processos fiquem parados. Os licenciamentos estão normais, esperamos obter parte deles no terceiro trimestre para continuar a operação.
Melhoraram os processos, a rapidez?
Temos visto um movimento muito grande de melhora na tratativa desse tema, uma abertura do poder público, da Secretaria do Meio Ambiente, um canal de diálogo que está trazendo bastante celeridade. Estamos com nossos trâmites normais.
A instabilidade em barragem da Vale prejudicou muito Barão de Cocais. Afetou de alguma forma a produção da unidade da Gerdau na cidade?
Quando aconteceu no ano passado, teve uma pronta resposta da autoridade pública, Defesa Civil da região, e nós atuamos em conjunto. Por um período curto, de dez dias, tivemos que interromper nossas atividades por precaução e entender o que estava acontecendo. Mas nossa unidade não estava sendo afetada diretamente pela barragem.
Você tem informações sobre o preço do carvão de eucalipto que esteve bem abaixo dos custos na última década?
A Gerdau tem programa de fomento aos pequenos plantadores, e a gente sempre trabalhou historicamente de uma forma sempre próxima a eles para levar tecnologia, conhecimento e para garantir uma matriz econômica para essas regiões. O carvão obedece às questões de mercado. A gente tem visto nos últimos 18 meses que o carvão vem acompanhando o movimento de retomada de alguns preços, principalmente de minério. A expectativa é que nos próximos meses a gente tenha patamares de carvão como estão hoje. A gente está discutindo muito sobre meio ambiente, carbono, emissões, e a rota que usa carvão vegetal para produção de aço é a mais limpa que existe hoje. Tem a menor emissão de carbono. Esse negócio do carvão tem altos e baixos, mas é extremamente promissor por ter uma matriz de produção limpa.
Como está o projeto de diversificação? Vocês vão investir em energia solar?
Fizemos o anúncio de uma área, a Gerdau Next. Nesses 120 anos que fazemos em janeiro em 2021, construímos a trajetória na cadeia do aço. Quando a gente hoje olha para os próximos cem anos, vemos que vão ser construídos dentro do aço, mas vão aparecer oportunidades adjacentes que podem ser exploradas. Estamos discutindo os rumos e os investimentos que vamos buscar. Ainda está em uma fase bastante preliminar, naturalmente setores como de energia eólica e solar são bastante interessantes, se comunicam com nosso negócio, uma vez que somos eletrointensivos. Eles têm uma pegada verde que somos bastante sensíveis. E economicamente é bastante interessante. O mercado de Minas é muito interessante para isso, o Norte de Minas também.
Podem ter fazendas solares em Minas?
Não pensamos nisso, mas Minas tem sol, área, pode ser um caminho para a frente.
E grafeno?
Na nossa divisão de aços especiais que atende à linha automotiva, temos um grupo importante de pesquisa de novos materiais e compostos que podem ser acrescentados ao aço de forma que a gente possa oferecer melhores produtos e performance à nossa aplicação. Há dois anos, criamos o núcleo de grafeno. Temos um time de pesquisadores junto à Universidade de Manchester, na Inglaterra, com as melhores cabeças sobre o tema, trabalhando com clientes no Brasil e nos Estados Unidos sobre aplicações para o grafeno e como a gente pode destinar isso ao mercado. Nesse momento, ainda está numa fase de pesquisa. Mas a gente credita que materiais alternativos e avançados podem ser caminhos de investimento e crescimento para o Gerdau para o futuro.
Mediante esse ciclo otimista visualizado pelas empresas do setor, existe uma preocupação da Gerdau com o capital humano? Tem previsão de admitir pessoal?
Somos Uma empresa que tem 120 anos de história, um dos pilares dela são as pessoas e o cuidado que sempre tivemos com elas. Isso não foi deferente nessas 20 últimas semanas. Nossa preocupação foi garantir a segurança e a integridade das pessoas. Nós fizemos um esforço enorme nesse período de pandemia para manutenção dos empregos da Gerdau, somos 15 mil pessoas no Brasil. Nesse período, mantivemos os programas de capacitação, colocamos 4.000 pessoas em home office, está funcionando bastante bem. Aprendizado para todos nós.
Vai manter esse pessoal em home office?
O que agente aprendeu nesse período é que as atividades de relacionamento, de construção, de confiança e de interação naturalmente saem prejudicadas. Mas muita atividade a gente consegue fazer a distância. O modelo que a gente operava antes não vai voltar. O modelo hoje tem deficiências, vamos ter um misto. Talvez dois dias da semana as pessoas possam manter suas bases de home office. Mudança benéfica.
Com a mudança dos impostos sobre produtos, a Gerdau pode se beneficiar nos negócios da construção civil?
Tema tributário em um mar de oportunidades no Brasil. Especificamente no setor da construção, temos hoje distorções tributárias. Em modelos construtivos feitos em aço e os feitos em concreto, o de aço é onerado pela regra tributária. Paga 30% mais imposto. O aço é reciclado eternamente e o concreto é feito só uma vez. Uma reforma tributária que consiga corrigir essas assimetrias, fazer essas correções, pode fomentar a construção em aço. Estamos trabalhando junto às autoridades para que isso aconteça.
É positiva a fusão de PIS/Cofins?
Para o setor industrial, um dos pontos mais nocivos que o modelo tributário do Brasil acarreta é a cumulatividade de impostos. Ao longo de toda a cadeia, entre débitos e créditos, não conseguimos nos creditar de tudo. Hoje, quando a gente exporta o aço, mandamos para o exterior um cheque de 7% de impostos que não conseguimos recuperar ao longo da cadeia. Significa competitividade, investimento, empregos. Essa cumulatividade está em pauta, e vemos com bons olhos essa discussão.
O Brasil continua sendo um saco de 40% de impostos?
Continua da mesma natureza. O país carrega um saco de R$ 1,4 trilhão de custo Brasil que onera o setor industrial. Pensa como país, é uma carga brutal que a gente carrega e deixa de usufruir como competitividade. Somos grandes consumidores de energia elétrica, pagamos um encargo de 30% nela. Esse custo não é compensado. Em nenhum país do mundo existe isso. Tem isso na folha, na cadeia, no investimento. Antes de ter um equipamento produzindo eu já paguei imposto.
Ganho com a valorização cambial perde no custo tributário?
Exatamente. Essa é uma discussão extremamente importante. O câmbio só está corrigindo parcialmente parte dessas distorções.
A Gerdau é grande consumidora de sucata metálica. Como o desenvolvimento do mercado de sucata é observado para o futuro?
A Gerdau é hoje a maior recicladora das Américas. Nós processamos e reciclamos cerca de 2,5 milhões de toneladas de sucata no Brasil. E temos capacidade de processamento. O mercado de sucata está passando por um processo de uso intensivo de tecnologia. Hoje, através de uso de imagens inteligentes e de algoritmo se consegue fazer leitura, processamento e o destino da sucata, que antes era feito de forma manual. Em vez de horas, hoje levo segundos, minutos, é ganho de produtividade.
Essa tecnologia já está disponível em Divinópolis?
Começamos no Rio de Janeiro e até o final do ano que vem vamos levar para todas as unidades.
A Gerdau vendeu muitas operações nos últimos anos para reduzir dívidas. Ela pode ser vendida nos próximos anos?
Temos uma família controladora, que gosta do aço, vive da sucata. Tivemos uma revisão do nosso portfólio dentro de uma estratégia empresarial. Nada mais do que uma readequação para construir o futuro. As informações são do jornal O Tempo.
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