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Expansão da mineração para transição energética agrava crise climática na Bahia, aponta estudo

  • jurimarcosta
  • 29 de abr.
  • 2 min de leitura


A corrida por minerais estratégicos para a transição energética está acelerando impactos climáticos severos na Bahia, um dos principais polos de mineração do país. O alerta consta em estudo inédito divulgado nesta quarta-feira (23) pelo Observatório da Mineração, com base em dados da consultoria TMP, especializada na análise de eventos climáticos extremos.


A Bahia, ao lado de Minas Gerais, Goiás e Pará, concentra as atividades de extração de minerais como lítio e níquel — fundamentais para a fabricação de baterias de carros elétricos e sistemas de energia renovável. Segundo o levantamento, esses estados já enfrentam mudanças significativas nos padrões climáticos, com aumento das temperaturas extremas, chuvas fora de época, prolongamento de períodos secos e redução no volume dos rios.



Na Bahia, os efeitos já são percebidos na retração das sub-bacias hidrográficas. Entre o final do século 20 e o início do século 21, de 32% a 39% dessas regiões registraram uma diminuição superior a 10% na extensão dos rios, índice considerado de “alto risco” pelos especialistas. O levantamento atribui esse declínio à intensificação do uso da água por setores como mineração, agricultura e geração de energia.


Risco para a segurança hídrica e energética


A crescente pressão sobre os recursos hídricos ameaça não apenas o abastecimento de comunidades locais, mas também a produção de energia elétrica, uma vez que o Brasil depende majoritariamente de hidrelétricas. A mineração e a siderurgia, juntas, consumiram cerca de 11% da eletricidade nacional em 2021, embora representem menos de 3% do PIB.


“Estamos criando zonas de sacrifício no país para suprir a demanda de descarbonização dos países do Norte”, alerta a consultora Gabriela Sarmet, referindo-se às nações mais desenvolvidas. “A mineração tem se vendido como verde, mas seu avanço desordenado tem custo ambiental elevado.”


Um problema substituindo outro


O diretor do Observatório da Mineração, Maurício Angelo, reforça que o modelo atual de exploração mineral repete velhas práticas predatórias, agora sob o pretexto da sustentabilidade. “Estamos trocando uma dependência fóssil por uma dependência mineral, com impacto ambiental igualmente devastador. A transição energética precisa ser justa também para os territórios onde essa extração ocorre.”


Na Bahia, comunidades tradicionais em regiões como o semiárido já relatam dificuldade crescente no acesso à água e problemas de saúde relacionados à poeira gerada pelas atividades extrativas.


O estudo também destaca a fragilidade do sistema de licenciamento ambiental em estados como Minas Gerais — situação que se reflete em todo o país. “É muito fácil conseguir autorização para desmatar e minerar. Enquanto isso, os direitos de povos indígenas e comunidades tradicionais são ignorados”, criticou a liderança indígena Cleonice Pankararu, que vive no Vale do Jequitinhonha, em Minas, região vizinha à Bahia.


Ela relata o avanço acelerado da mineração de lítio na região, com prejuízos à saúde e ao meio ambiente. “Antes, quase não tínhamos problemas respiratórios ou gastrointestinais. Agora, são constantes.”


Caminhos para o futuro


Para evitar o colapso ambiental, o relatório recomenda que empresas adotem uma postura proativa na gestão de riscos, e que o Estado retome seu papel regulador, hoje muitas vezes confundido com o de parceiro das mineradoras.


“O futuro da Bahia e de outros estados mineradores está em jogo. Ou reavaliamos o modelo atual de desenvolvimento, ou aprofundaremos os efeitos da crise climática em regiões que já enfrentam vulnerabilidades históricas”, conclui Maurício Angelo.


 
 
 

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