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Elementar, Einstein!

Uma anedota comum nos corredores das faculdades de engenharia era uma paródia da afamada fórmula de Albert Einstein que trata da transformação de matéria em energia: E=mc², em que se tem engenheiro eletricista (E), mecânico (m) e civil (c). Segundo a brincadeira, um eletricista vale muito mais do que mecânicos e civis. A anedota ignorava o valor do engenheiro de minas.


Olhando os pisos salariais dessas profissões descobri que a fórmula correta seria, sem o engenheiro de minas, bem diferente, uma vez que o engenheiro mecânico está cotado a R$ 7.608,69 por mês, ou pouco acima do eletricista, com R$ 7.180,47 e do civil com um valor mais modesto de R$ 6.690,69. Esses valores são médias dos pisos para profissionais com carteira assinada em 2021 segundo um website especializado que usa fontes oficiais.

O engenheiro de minas (EM) está em outro patamar e poderíamos transformar a fórmula para EM=(e+m+c)/2,284, uma vez que o "salário mínimo" médio do engenheiro de minas está em R$ 9.405, variando de pouco mais de R$ 6 mil a R$ 14 mil por mês. Assim, considerando a média (e décimo terceiro, mas sem bônus), esse profissional pode tirar uns R$ 122 mil por ano. Usando uma expressão em inglês podemos dizer com orgulho que é um "six figure wage" ou seja, um salário de seis dígitos.

Na Austrália (sempre ela), o valorizado engenheiro de minas custa, de saída (da faculdade), pelo menos 83 mil dólares australianos por ano em 2020, ou seja, US$ 60 mil. Mas grandes mineradoras estão pagando entre 130 e 140 mil dólares locais, ou seja, entre US$ 93 mil e US$ 100 mil, pelos melhores recém-formados. E lá estão de novo os salários de seis dígitos. Nada mal, sair da escola (de minas) ganhando meio milhão de reais por ano.

E junto com essa escalada salarial, as formas de recrutamento também estão mudando e deixando os websites de recrutamento e indo a congressos e happy hours, na beira de uma mesa de sinuca ou em frente a um alvo de dardos. Sem se restringir a recém formados, pois empresas mais aceleradas avançam em alunos do terceiro período.

Já vimos esse filme em 2009, quando o superciclo se aproximava do auge, logo após uma crise financeira global. Eram mineradoras disputando engenheiros e outros profissionais (TI, finanças, operadores) assim que saiam da faculdade ou do curso técnico, acreditando que teriam que pagar mais caro se deixassem isso para depois. O que vi foi gente mudando de empresa a cada seis meses, em troca de um pequeno aumento.


Nos EUA, o problema é similar. A dificuldade crescente de atrair novos profissionais, mesmo com os altos salário, coloca o setor mineral em alerta. O salário médio anual não ultrapassa os seis dígitos, mas um engenheiro de minas ganha acima de US$ 92 mil por ano, valor superior ao do civil (US$ 90 mil) e mecânico (US$ 85 mil), em minas de metálicos, segundo dados oficiais de maio de 2020. E estamos falando aqui de um mercado de trabalho em que 20% do efetivo tem mais de 55 anos, mostram dados do BLS, o escritório de estatísticas do trabalho nos EUA.

Isso é sinal de que as condições de trabalho e a má fama da mineração, construída em cima da pouca atenção dada à sustentabilidade, afetam o processo de recrutamento mesmo em países com tradição mineral como Canadá e Austrália, onde engenheiros de minas entraram na lista de prioridades para imigração.

O Brasil teve uma vantagem sobre esses países, visto que a mineração foi declarada como atividade essencial e, assim, não foi interrompida nem nos picos da pandemia. Isso, e a alta nos preços das commodities, explicam a vitalidade atual do setor que, infelizmente chamou a atenção do governo que planeja aumentar a alíquota dos royalties (CFEM).

Também não acredito que a má fama da mineração seja um problema no Brasil. Temos ainda outra vantagem: abundância de mão de obra. Considerando que entre os 14,8 milhões de desempregados (dados do fim de julho) existem muitos engenheiros, não dependemos de imigrantes (como a Austrália), mas sim de uma requalificação para que eles voltem para a ativa, algo como o programa Meu Primeiro Emprego só que não para jovens aprendizes, mas para profissionais que passaram cinco anos em um curso caro que não é dos mais fáceis e que, agora, são alguns dos mais necessários.


Fonte: Notícias de Mineração do Brasil

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