Quem tem ouro ri à toa. O metal áureo pode não estar na casa dos US$ 2 mil, o pico histórico atingido no início de agosto, mas não fica abaixo de US$ 1.900 a onça, levando mineradoras a se lançar nas bolsas de valores e investirem no aumento de reservas douradas. Até uma corrida do ouro se esboça na Austrália. E o melhor é que isso vai continuar em 2021.
Há várias razões para se acreditar que a boa maré do metal amarelo vai se prolongar por muitos meses. Sem falar em ordem de importância temos: o baixo crescimento das reservas de ouro em muitas mineradoras, o aumento no custo de lavra do ouro, a prosperidade na China, a pandemia que ainda pode fechar ou restringir a produção, a volatilidade do dólar, juros baixos no mundo todo e, no curto prazo, as eleições nos Estados Unidos da América.
Primeiro vamos falar dos fatores associados à oferta do metal precioso. Dados da S&P Global mostram que 16 das 20 maiores mineradoras de ouro do mundo viram suas reservas minguarem de 2010 a 2019. O caso mais dramático é o da Kinross que começou esse período com 24 anos de reservas e terminou com apenas cinco anos.
O custo total (Aisc) das mineradoras também aumentou em tempos de Covid-19. Uma das que viram o maior crescimento dos custos foi a Yamana Gold, que vai aproveitar o bom momento do ouro para lançar suas ações também em Londres, onde já tem a aprovação da LSE.
Por outro lado, a S&P diz que essas mineradoras de ouro estão com os bolsos cheios, uma vez que levantaram US$ 6,2 bilhões de janeiro a setembro deste ano. Logo, elas têm grana de sobra para reduzir custos e aumentar reservas.
Um fator ainda distante de realizar seu potencial, mas com impactos evidentes, é a "corrida do ouro" na Austrália. Nada de garimpeiros maltrapilhos e enlameados, cavando barrancos com as mãos, são juniores que gastaram nada menos do que 209 milhões de dólares australianos no segundo trimestre deste ano, o equivalente a R$ 830 milhões, em pesquisa mineral.
Isso é efeito dessa arrancada do preço do ouro. Uma das consequências é que operadores de sonda de perfuração estão sendo contratados por até 5.000 dólares australianos (uns R$ 20 mil) por mês, disse um jornal de Brisbane. Grande oportunidade para quem conseguir chegar (e entrar) na Austrália durante a pandemia. Mas não pensem que há áreas novas, estão resgatando as antigas em torno de velhas minas.
Outro sintoma da febre áurea é a demanda por análises de testemunhos. A SGS da Austrália viu a demanda normal de 50.000 análises por mês pular 30% para 65.000 análises mensais.
Por fim, os contratempos da Freeport na Indonésia continuam e podem retirar muito ouro do mercado. Em uma operação com 30 mil trabalhadores, como é o caso da mina de Grasberg, a pandemia é um caso sério num país com 340 mil contaminados e 12 mil mortos, conforme dados da John Hopkins University.
A mina continuou funcionando com uma equipe mínima que ficou enclausurada nas nuvens (as cavas ficam a mais de 4 mil metros de altitude). Em agosto, depois de muita negociação, os rodízios semanais voltaram e com isso, a ameaça de uma nova onda de Covid, coisa que especialistas consideram inevitável.
Do ponto de vista de demanda, temos o iminente pacote de estímulo nos EUA, que deve vir logo após as eleições em 3 de novembro. Na China, a demanda aquecida por aço e bens de consumo puxa a alta na demanda por minério de ferro, cobre, zinco e ouro.
E o Brasil? Bem, a arrecadação de royalties (Cfem) com ouro saltou de R$ 140 milhões, de janeiro a setembro do ano passado, para R$ 242 milhões, ou seja, um aumento de quase 73%. Olhando a arrecadação total, o aumento foi de somente 9%.
Acho que nem precisa falar muito, isso mostra quanto aumentou a produção oficial. Como diria Belchior, o cantor e não o rei mago, "quem me deu a ideia de uma nova consciência e juventude está em casa contando o vil metal", ou passeando de lancha em Angra dos Reis.
Fonte: Notícias de Mineração do Brasil
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