A mineração provocou 29 vazamentos em diferentes países desde 2009, uma média de três incidentes por ano. Eles deixaram um rastro de, no mínimo, 93,77 milhões de metros cúbicos de rejeitos e substâncias tóxicas, segundo levantamento da Wise Uranium Project, entidade sem fins lucrativos.
O volume pode a ser maior, já que não há informações sobre diversos incidentes.Os vazamentos provocados pela Vale e pela Samarco nos últimos três anos derramaram, juntos, 44 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração no Estado de Minas Gerais. Foram dois dos maiores incidentes do gênero em todo o mundo, mas estão longe de serem os únicos. "Há uma dificuldade de transparência, a depender do governo local onde o vazamento ocorreu, e não há nenhuma regra internacional que exija a prestação de informações em casos deste tipo", diz Peer de Rijk, diretor da Wise Uranium Project. Desde 2009, há registro de vazamentos em países como: México, Austrália, Peru, China, Estados Unidos, Mianmar, Canadá, Rússia, entre outros. Além dos desastres da Samarco e da Vale, um dos maiores do gênero ocorreu nas Filipinas, em 2012, com 20,6 milhões de metros cúbicos de rejeitos da mina de Padcal despejados no rio Agno, no norte do país.
À época, dirigentes da mineradora Philex Mining Corp, responsável pela mina, alegaram que o vazamento foi resultado de chuvas fortes. Outro caso foi o vazamento na mina de Mount Polley, no Canadá, em 2014, da mineradora Imperial Metals Corp. Uma barragem colapsou e provocou o vazamento de milhões de metros cúbicos de rejeitos tóxicos de cobre e ouro em lagos e florestas da região. A investigação concluiu que o rompimento resultou de falha na fundação da estrutura, e que o projeto não considerava corretamente a complexidade geológica do terreno. O incidente provocou uma mudança drástica na fiscalização às mineradoras no país. Na Associação de Mineração do Canadá, do qual a Vale faz parte, já que tem operação no país, as companhias são obrigadas a produzir relatórios anuais sobre a segurança no armazenamento de seus rejeitos, com base em cinco indicadores. Além disso, a cada três anos, uma auditoria externa avalia se o acompanhamento está adequado. O Canadá é considerado o país mais avançado em segurança de barragens por especialistas. Outra organização que dá diretrizes de segurança ao setor é o Comitê Internacional de Grandes Barragens. As duas entidades são mencionadas pela Vale em seu relatório de sustentabilidade de 2017 (o mais recente divulgado) como referências de segurança de suas barragens. Procurado, o órgão não comentou sobre o caso específico da Vale, mas disse que as empresas de mineração nunca aparecem nas reuniões internacionais do comitê. "Eles não participam e, em geral, não usam engenheiros especializados em barragens na construção dos empreendimentos", afirmou o órgão. Para Joaquim Pimenta, especialista em barragens de rejeitos do Comitê Brasileiro de Barragens, isso não se aplica ao Brasil. "A Vale frequenta nossas reuniões e tem uma equipe grande e capacitada", disse ele. No caso brasileiro, o problema não está nas diretrizes ou mesmo na legislação sobre a segurança das barragens, e sim na aplicação dessas regras, diz ele. "Todo ano que cai uma barragem, aparece uma lei. Mas não é de lei que precisamos, e sim de pessoas disciplinadas para seguir os procedimentos. Se na hora de construir, projetar, operar, o pessoal não aplicar, o acidente ocorre", afirmou Pimenta. "Nem sempre as empresas formam equipes bem treinadas ou têm uma auditoria interna para saber se estão seguindo os procedimentos". No caso de Brumadinho, ele diz que ainda é cedo para avaliar se este foi o caso. As informações são da Folha de S. Paulo.