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10 anos da tragédia em Mariana: o que aprendemos?

  • jurimarcosta
  • 29 de mai.
  • 7 min de leitura

“A Samarco aprendeu a atuar de forma mais humilde, genuína e que as pessoas saibam que não somos arrogantes e estamos aprendendo muitas coisas"




Um dos destaques no 10º. Mineração &/X Comunidades foi a discussão sobre o acidente de Mariana, que está em vias de completar 10 anos, que foi abordado em duas palestras e uma mesa-redonda. Iniciando a abordagem do tema, o jornalista Valdeci Verdelho, especialista em crises, disse que o acidente em Mariana (rompimento da Barragem do Fundão, da Samarco) foi uma tragédia perfeita, por existir um risco técnico, falta de planejamento de emergência, fiscalização ineficaz do poder público, uma resposta descoordenada e falha na comunicação entre a Samarco e comunidade, o que resultou num legado trágico, com perda ambiental, de identidade cultural, forma de sustentação de muitas famílias, uma tragédia sem precedentes.


Para ele, a crise é potencializada pelo contexto e tem efeito em cascata como perda de fauna marinha, problema de saúde pública por água contaminada e outros. E isto vale não apenas para a Samarco que ficou com a reputação e credibilidade comprometidas, mas também os parceiros, além de sofrer um impacto proporcional ao que foi gerado. “Em relação à reputação, tem muito a ver com a comunicação, uma vez que a narrativa precisa ser sólida e consistente o tempo todo. Já as multas estão relacionadas à punição e estão relacionadas ao poder. Será que as empresas pagam todas as multas? Ela acaba sendo uma pena para quem não tem recursos para lidar com as situações, enquanto o respeito da empresa é ter credibilidade perante os outros. Com o acidente, a Samarco teve a reputação afetada e o respeito foi rompido, sendo que o segundo é mais longo para ser recuperado”.


Para Valdeci, o ideal é trabalhar em prevenção e evitar a crise. Uma vez que houve a crise, tem que entender e ter empatia com a comunidade afetada. “Dinheiro não traz vidas de volta nem regenera sistemas biológicos de várias áreas, mas há uma maneira de se corrigir”. Valdeci sugere a jornada dos Rs que incluem: Reconstruir, Reparar, Rever, Respeitar, Reconhecer, Restituir, Restaurar, Regenerar, Recuperar, Resgatar e Ressignificar para dar um novo sentido à história da empresa.




Fotos: Leo Fontes


Na sequência Rosane Santos, CSO- Diretora de Sustentabilidade da Samarco, abordou o tema ‘Mariana 10 anos - o que aprendemos?’ comentando que a empresa tem desenvolvido, aprimorado e aprendido com esses nove anos de acidentes. “É um processo longo, exaustivo e penoso, que impactou não apenas a Samarco, mas todo o setor mineral”.


Rosane diz que a Samarco está em pleno processo de reparação e quando houve o acidente havia um desconhecimento total sobre o tema. “Foi assustador o que aconteceu, o rompimento trouxe a mineração para a televisão, para tratar da questão das barragens e, desde o acidente, a empresa se mobilizou em diversas frentes para atuar junto à comunidade. A Samarco deu todo suporte psicossocial para os afetados, atendimento a animais e a mineradora passou a se desconstruir a partir do desastre, com a ajuda de executivos em trabalho emergencial e em conjunto com a comunidade. Um dos aprendizados da tragédia é de que as empresas precisam se relacionar com pessoas, a partir de pessoas”.





Ela narrou que a quantidade de rejeitos chegou a atingir cerca de 39 municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo e a Samarco atuou até agosto de 2016, quando foi criada a Fundação Renova, que assumiu a operação dos programas de reparação, quando surgiu o Termo de Transação de Ajustamento de Conduta (TTAC), solução acordada entre vários agentes. Em 2018, houve o TAC governança, que colocou os atingidos como parte do processo de tomada de decisão, sendo representados. A Fundação Renova já alocou R$ 38 bilhões no território e ainda lida com críticas, por ser um trabalho inédito, onde as pessoas construíram soluções a partir do que existia e com a expectativa dos atingidos no contexto do desafio e do ineditismo. A Fundação, a Samarco e acionistas aprenderam que reparação necessita da participação da comunidade e, em 2024, entes de diversas áreas chegaram a um acordo de repactuação de R$ 170 bilhões para corrigir os danos. A mineradora vai financiar a reparação em 20 anos, com políticas públicas mais elaboradas, além de concluir os assentamentos e indenizações, executar o programa de recuperação ambiental e fazer a transição da Fundação Renova à Samarco.


A repactuação fez a Samarco rever processos de gestão, governança, adotar sistema de empilhamento de rejeitos a seco. “A Samarco aprendeu a atuar de forma mais humilde, genuína e que as pessoas saibam que não somos arrogantes e estamos aprendendo muitas coisas. Em dezembro de 2020, a Samarco voltou a operar e atualmente está a 60% da capacidade que deve atingir os 100% em 2028. “Para concluir, Rosane disse que a Samarco tem evoluído, mais consciente, colaborativa e atuante, quando entra a questão da sustentabilidade com todos os indicadores de eficiência”.


Mesa-redonda: O que aprendemos?


Em seguida houve a mesa-redonda moderada pelo Líder do Setor de Mineração do Mattos Filho Advogados e conselheiro de Brasil Mineral, Adriano Trindade, com o tema ‘Mariana 10 anos - o que aprendemos?’, tendo a participação de Rosane Santos, da Samarco, Luciana Souza de Oliveira, membro do movimento Vozes Negras pelo Clima e vice-presidente da ASCORD, Miguelito Teixeira, da Comissão de atingidos de Conselheiro Pena/MG, Wilson Brumer, da BRP Energy, Valdeci Verdelho, da Verdelho Comunicação e Silvério Joaquim Aparecido da Luz, Prefeito de Rio Doce.


Luciana Souza de Oliveira começou o debate dizendo que as comunidades tradicionais não vêem as figuras corporativas tendo uma posição igualitária, de humildade pelos dois lados, uma vez que não há um respeito sobre as reais necessidades dos atingidos. Os R$ 38 milhões foram colocados na comunidade, mas as reais necessidades não foram ouvidas. “O respeito vai mudar de acordo com o ponto de vista em que estou focada. Nesse caso, não chegou a nós”.


Para Miguelito Teixeira, em relação à questão humana em diversas reuniões houve momentos amargos com membros da Samarco e da Fundação Renova, mas as empresas evoluíram e hoje já há um diálogo, mas próximo entre as partes. Essa questão do diálogo vai ajudar a minimizar os impactos sofridos por todos da comunidade. Prefeito de Rio Doce, Silvério Joaquim Aparecido da Luz disse que o rompimento é fruto de uma falta de comunicação da Samarco com o poder público e sociedade, e não podemos esquecer o que aconteceu, uma vez que o município não tinha uma Defesa Civil efetiva. “Espero uma reparação justa e o respeito com comunidades para uma evolução, além do aprendizado para a cidade, onde os atingidos conseguiram se empoderar para debater em condições de igualdade. “Criamos estrutura de conformidade e governança por meio de consórcio intermunicipal de 50 municípios para garantir qualidade na entrega do serviço público às comunidades”.





Logo depois, Wilson Brumer disse que o setor de mineração como um todo tem que reconhecer as falhas, para não cometer os mesmos erros. “As tragédias de Mariana e Brumadinho mostraram que o setor teria que ser repensado. A mineração não sabia se comunicar e os problemas fizeram com que ela mudasse de atitude. A Samarco antes da tragédia era uma das melhores empresas em relacionamento com a comunidade, diferentemente da Vale. Temos que tirar o aprendizado e seguirmos em frente e o setor precisa reconhecer os erros, ser menos prepotente, mudar o relacionamento com as comunidades, mas ainda tem muito a fazer. As tragédias machucaram o setor”.


Representando a Samarco, Rosane Santos disse que com o rompimento e suas consequências diretas e indiretas a empresa teve sua reputação abalada, mas não derrubada. E a companhia aprendeu a sentar e ouvir com a comunidade e poder público. “Precisamos prover soluções para quem não está sorrindo para a gente e isso é um aprendizado para alinhar as diferenças e chegar em um ponto comum para o melhor de todas as partes”.


O jornalista Valdeci Verdelho disse que o setor de mineração tira as entranhas do Brasil e as exporta. “O setor tem uma má comunicação porque realmente o desafio é muito grande, o que demanda esforço maior e contínuo não apenas da Samarco, mas de toda a mineração”.


Luciana disse que a única coisa que a sua comunidade tem (os rejeitos) foi a Samarco que deixou lá. Algumas coisas que a Samarco disse que iria fazer, ela fez, mas o contato com a comunidade se perdeu com a entrada, na época, da Fundação Renova. A questão da indenização é diferente da reparação. A primeira é algo que se pode pagar, um repasse financeiro, enquanto a outra vai além disso. Hoje, muito dos atingidos padecem por não ter acesso a alguns programas de transferência de renda. Precisamos virar a página, mas o valor da indenização é baixa para quitações individuais. “Sobre a indenização, os atingidos observaram que o sistema de indenização era uma forma de resolver o problema da pior maneira possível. Tivemos pessoas de outros territórios que receberam muito mais que nós. Nessa nova questão do encerramento das indenizações, Miguelito comentou que a maior parte ficará com o poder público e os atingidos não terão quase nada”.


Sobre a indenização, Rosane diz que os R$ 170 bilhões são indenizatórios e reparatórios para contemplar o maior número de pessoas possível até 4 de julho. “Os recursos que vão para entes federativos precisam ser convertidos para os territórios, para que haja uma geração de renda. Elas precisam caminhar simultaneamente”. A Samarco está em fase inicial de estudo para a retirada de rejeitos de rios afetados sem provocar outro dano, com a participação do Ibama, que fará o licenciamento. O Programa de Recuperação Ambiental engloba o que já era feito antes do acidente nas regiões impactadas e o acordo destina recursos para sanar o saneamento dos municípios, desde que eles façam a adesão. “A Samarco não fiscaliza um ente público a respeito dos recursos, mas mantemos o diálogo para que os projetos estruturantes cheguem nos territórios. Em relação ao saneamento, ele informou que existem os programas previstos na reparação e os existentes no âmbito federal, estadual e municipal. Tratamos 100% do esgoto de rio Doce e já tivemos um avanço considerável de muitos municípios”.


Silvério comentou que o tema indenização é fundamental para dar fim ao processo, homologado pelo STF, para termos ações estruturantes para as nossas comunidades, e isso e impossível de acontecer hoje, para que possamos acessar os recursos que saiam de Brasília e Minas Gerais e cheguem a quem é de direito. “Meu grande receio é que os recursos acabem em áreas que não foram impactadas”. O prefeito disse que Rio Doce vai receber R$ 244 milhões ao aderir o termo de repactuação da Samarco, o que é muito recurso. “Constituímos mais de um Fundo Soberano para aplicar o montante da repactuação e estamos começando a estruturação deles, que serão administrados por gestores de diversos segmentos do poder público e da sociedade.


Fonte: Brasil Mineral



e forma mais humilde, genuína e que as pessoas saibam que não somos arrogantes e estamos aprendendo muitas coisas"

 
 
 

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